A figura grotesca, com suas inacreditáveis fantasias, atirando bacalhau para a platéia, dava um nó na intelectualidade brasileira. Ao mesmo tempo que conquistava o público mais popular, com os artistas do campo brega que apresentava e concursos inusitados como o que elegia a “empregada doméstica mais bonita do Brasil”, Chacrinha encantava os tropicalistas, com o jeito intuitivo como encarnava os personagens modernistas antropofágicos de Oswald e Mário de Andrade, que a turma de Caetano, Gil e companhia resgatava. A quem tentava entender ou buscar algum sentido no que fazia o Velho Guerreiro, Chacrinha repetia com um bordão simplesmente maravilhoso: “Eu vim para confundir, não para explicar”.
No jogo da sua sucessão em 2010, o presidente Lula parece fazer mais ou menos o que fazia o Velho Guerreiro. Lula veio para confundir, não para explicar. O presidente envia sinais trocados, dá declarações desencontradas. Ao mesmo tempo, estabelece para si um clima de eterno comício, estranho para quem, pelo menos em princípio, não será candidato a nada daqui a dois anos. O resultado final disso tudo é que Lula consegue, assim, tolher iniciativas, intimidar arroubos de independência e manter-se no centro de tudo. Embora esteja longe de dizer qual é a direção, é Lula quem conduz. Embora ainda não tenha começado a dar as ordens, é Lula quem comanda.
O caso da aliança entre o PT do prefeito Fernando Pimentel e o PSDB do governador Aécio Neves é emblemático desse jogo de sinais trocados do presidente. Fernando Pimentel participou a Lula o início das negociações. E parecem ter havido conversas também nesse sentido entre o presidente e o próprio Aécio Neves. De acordo mesmo com algumas pessoas próximas do presidente que pensam diferente no PT, Lula estimulou as conversações. Aí, na reunião da Executiva do partido, o assessor do presidente, Marco Aurélio Garcia, veta a aliança
No caso de São Paulo, os aliados de Marta Suplicy reclamam de falta de empenho do presidente em apoiar a sua candidatura. Marta queria de Lula uma garantia de que voltaria ao ministério se perdesse as eleições, coisa que não conseguiu. Também acham que Lula poderia ter se movimentado para tentar abortar o apoio do PMDB, regido por Orestes Quércia, ao prefeito Gilberto Kassab, do DEM. Ao mesmo tempo, o presidente dos peemedebistas, Michel Temer, prepara levantamentos de alianças municipais para provar a Lula que, independentemente do que aconteceu
No entendimento de pessoas próximas a Lula, foi esse o raciocínio que o levou a bancar a pré-candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Ao lançar Dilma, Lula tolheu as demais iniciativas petistas. Fez com que Marta, Patrus, Tarso Genro e companhia recolhessem as suas pretensões. Do leque de opções petistas para 2010, Dilma é a única que não tem qualquer experiência eleitoral. Sua candidatura não é pretensão dela, mas idéia de Lula. E a ela não resta alternativa senão aceitar ser conduzida nesse processo pela mão do presidente. Se der certo, terá sido Lula quem elegeu seu sucessor. Se ela não conseguir resistir ao bombardeio da crise dos cartões corporativos, será uma tentativa de Lula que não deu certo. Será descartada, e Lula partirá para outra alternativa.
O risco dessa história toda é que, ao final, Lula não tenha senão uma série de opções fracas, desorientadas e sem peso eleitoral. Bem, aí há o ás na manga do amigo de Lula, deputado Devanir Ribeiro. Se a história do terceiro mandato é mantida (e é mantida por ele, Devanir, não é pela oposição ou setores da imprensa), é porque faz parte dos sinais trocados emitidos por Lula. Das alternativas várias que ele mantém no cenário enquanto não toma a decisão sobre qual caminho seguir. Até que resolva esclarecer, o presidente faz como Chacrinha: confunde, não explica.
Um comentário:
Rudolfo,
como se descreve nas sábias palavras de Caetano em "O Quereres" ( para fazer jus à referência tropicalista), seja da forma que o quisermos e precisarmos, Lula supostamene o será. "Onde queres nada, nada falta..." Suas palavras Rudolfo, ajudam a torná-lo (Lula) inconfundível. Mesmo que, ainda, inexplicável.
O Velho Guerreiro certamente entregaria ao nosso presidente, um belo abacaxi!
Abraços,
Diego Ponce de Leon
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