O senador alagoano está convencido de que só não caiu porque não largou a presidência do Senado. Assim, como ele ainda enfrentará mais dois ou três processos no Conselho de Ética, não há agora santo que o faça mudar de tática
Na quinta-feira, depois da votação que o absolveu no processo de cassação movido pelo PSol, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), teve uma longa reunião com a líder do governo no Congresso, Roseana Sarney (PMDB-MA), e com o pai dela, o senador José Sarney (PMDB-AP). Os dois insistiam para que Renan, obtida a vitória, tirasse agora uma licença até que as coisas se acalmassem. Os dois avaliavam que Renan enfrentara a munição pesada dos meios de comunicação, a indignação de boa parte da opinião pública, inconformada com o resultado, e dividira agora o Senado de tal forma que a ele seria quase impossível conduzir a partir dali uma nova fase de entendimento. Caso saísse por uns dias, entendiam, Renan esperaria a poeira baixar, a sua ausência permitiria a retomada de um clima de pacificação, e as coisas no Senado poderiam voltar a caminhar normalmente. Renan ouviu as ponderações e respondeu de forma curta e grossa: “Não há a menor hipótese de eu sair agora”. Ele estava plenamente convencido de uma coisa: cometera vários erros no processo desde o surgimento de denúncia de que tinha as despesas da filha com a jornalista Mônica Veloso pagas por uma empreiteira, mas não tinha dúvida alguma de que uma das suas atitudes fora um imenso acerto – se não tivesse permanecido na presidência do Senado, entendia, talvez àquela hora ele não fosse mais senador. Renan ainda enfrentará mais dois ou três processos no Conselho de Ética. Se, na sua avaliação, fora um acerto enfrentar o primeiro sem se licenciar da presidência, não havia, portanto, na sua ótica, razão para mudar de tática agora.
Não cabe aqui discutir se Renan está certo ou não. Se a sua postura é eticamente correta ou não. Vamos deixar as avaliações mais editorializadas para outros veículos, e mergulhar no raciocínio e na tática do próprio Renan. Até porque, ao final, será isso que irá prevalecer de fato. Renan deixar a presidência do Senado é algo que não depende de torcida, mas apenas da vontade do próprio Renan. E ele não está com vontade alguma de fazer isso. Ele pode até ser convencido do contrário, mas a sua intenção, hoje, é não tirar licença alguma. Nem mesmo uma viagem de duas semanas, ou mesmo uma, é coisa que ele pretenda fazer.
E por que ele não sai? Há vários fatores pesados na sua tática. A primeira razão é que a presidência dá a Renan instrumentos políticos que ele não teria se tornando apenas mais um senador. Somente isso talvez já fosse razão para se discutir falta de decoro, mas é assim que Renan entende. Ele se espelha na situação do hoje deputado Jader Barbalho (PMDB-PA), um de seus principais conselheiros neste momento. Quando surgiram as denúncias contra Jader (as histórias da Sudam, ranário, etc), ele afastou-se da presidência do Senado certo de que o seu gesto aliviaria a pressão sobre ele. Ao contrário, Jader enfraqueceu-se fora da presidência, e acabou renunciando para não ser cassado. Renan acha que o mesmo poderia acontecer agora se ele se ausentasse. O processo correria sem o seu controle, à sua revelia.
O segundo motivo de Renan para não sair é a simbologia que ele julga que passaria. Ele acha que a licença passaria uma interpretação de culpa reconhecida. A imagem que ficaria seria a de que o Senado absolvera Renan por uma conveniência política e que, agora, em retribuição, ele sairia para evitar problemas. Ainda que isso possa parecer brigar contra todas as evidências, a tática de Renan é declarar-se sempre inocente. Se ele diz que nada deve, tem de passar sempre a idéia de que nada teme. Essa é a segunda razão pela qual não sai.
A terceira vertente da sua argumentação é a idéia de que não há vácuo na política. Espaço vazio é ocupado sempre por alguém. Renan avalia que a dinâmica dos fatos não vai parar com a sua ausência. Pelo contrário, provavelmente pode mesmo se acelerar. A verdade é que não existe a menor garantia, para Renan, de que o processo pararia no ponto em que está caso ele se licenciasse, como pregam alguns. Ninguém tem o controle de todos os pontos dessa história para garantir algum acordo nesse sentido.
Assim, caso haja mesmo esta semana a conversa de Renan com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a intenção do senador alagoano é nem deixar que a prosa siga no rumo de uma sugestão para que se licencie. Mesmo que isso traga problemas para o governo, mesmo que isso mantenha um clima de incêndio no Senado, ele não pretende sair. Renan está buscando sobreviver. Neste momento, a ele a única coisa que importa mesmo é isso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário