quinta-feira, 8 de maio de 2008

Atenção! Não sou agente de viagens


Durante um tempo, mantive um site com o endereço www.rudolfolago.com.br. De uns tempos para cá, parei de usar esse endereço e me alojei nesse blog. Não sei de que jeito, esse meu antigo endereço virou um site em inglês de viagens, aluguel de carros, etc. Vou tentar descobrir como isso se deu. Só quero deixar claro que rudolfolago.com.br não sou eu. Embora adore viajar, ainda continuo jornalista. Não ingressei no ramo do turismo.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Lula e Chacrinha

Como fazia o Velho Guerreiro, Lula entrou no jogo da sua sucessão para confundir, não para explicar

A figura grotesca, com suas inacreditáveis fantasias, atirando bacalhau para a platéia, dava um nó na intelectualidade brasileira. Ao mesmo tempo que conquistava o público mais popular, com os artistas do campo brega que apresentava e concursos inusitados como o que elegia a “empregada doméstica mais bonita do Brasil”, Chacrinha encantava os tropicalistas, com o jeito intuitivo como encarnava os personagens modernistas antropofágicos de Oswald e Mário de Andrade, que a turma de Caetano, Gil e companhia resgatava. A quem tentava entender ou buscar algum sentido no que fazia o Velho Guerreiro, Chacrinha repetia com um bordão simplesmente maravilhoso: “Eu vim para confundir, não para explicar”.

No jogo da sua sucessão em 2010, o presidente Lula parece fazer mais ou menos o que fazia o Velho Guerreiro. Lula veio para confundir, não para explicar. O presidente envia sinais trocados, dá declarações desencontradas. Ao mesmo tempo, estabelece para si um clima de eterno comício, estranho para quem, pelo menos em princípio, não será candidato a nada daqui a dois anos. O resultado final disso tudo é que Lula consegue, assim, tolher iniciativas, intimidar arroubos de independência e manter-se no centro de tudo. Embora esteja longe de dizer qual é a direção, é Lula quem conduz. Embora ainda não tenha começado a dar as ordens, é Lula quem comanda.

O caso da aliança entre o PT do prefeito Fernando Pimentel e o PSDB do governador Aécio Neves é emblemático desse jogo de sinais trocados do presidente. Fernando Pimentel participou a Lula o início das negociações. E parecem ter havido conversas também nesse sentido entre o presidente e o próprio Aécio Neves. De acordo mesmo com algumas pessoas próximas do presidente que pensam diferente no PT, Lula estimulou as conversações. Aí, na reunião da Executiva do partido, o assessor do presidente, Marco Aurélio Garcia, veta a aliança em Belo Horizonte, e indica que essa era também a posição de Lula sobre o assunto. No dia seguinte, Lula liga para Aécio e diz que a direção petista havia cometido uma besteira. Afinal, o que Lula quer? As pessoas próximas do presidente não parecem ter uma segunda explicação. Lula quer evitar que a evolução da aliança em Minas para um cenário nacional aconteça fora do seu controle, num processo comandado por Aécio, com Fernando Pimentel ao lado, à margem da participação do próprio presidente. O que Lula quer é que, aconteça o que acontecer, o acerto tenha o seu aval. E que Aécio não se fortaleça sozinho, como o artífice único da manobra política.

No caso de São Paulo, os aliados de Marta Suplicy reclamam de falta de empenho do presidente em apoiar a sua candidatura. Marta queria de Lula uma garantia de que voltaria ao ministério se perdesse as eleições, coisa que não conseguiu. Também acham que Lula poderia ter se movimentado para tentar abortar o apoio do PMDB, regido por Orestes Quércia, ao prefeito Gilberto Kassab, do DEM. Ao mesmo tempo, o presidente dos peemedebistas, Michel Temer, prepara levantamentos de alianças municipais para provar a Lula que, independentemente do que aconteceu em São Paulo, o partido continua fiel à base governista. No caso, novamente o que Lula parece querer evitar é que Marta cresça como opção eleitoral para a Presidência à sua revelia, ganhando a eleição em São Paulo, fortalecendo-se internamente e impondo-se como nome num processo em que não se veja obrigada a beijar a mão de Lula. O presidente quer a sua vitória, não a descarta como opção para 2010, mas não a quer forte o suficiente para construir tudo isso sozinha, apenas com seu grupo.

No entendimento de pessoas próximas a Lula, foi esse o raciocínio que o levou a bancar a pré-candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Ao lançar Dilma, Lula tolheu as demais iniciativas petistas. Fez com que Marta, Patrus, Tarso Genro e companhia recolhessem as suas pretensões. Do leque de opções petistas para 2010, Dilma é a única que não tem qualquer experiência eleitoral. Sua candidatura não é pretensão dela, mas idéia de Lula. E a ela não resta alternativa senão aceitar ser conduzida nesse processo pela mão do presidente. Se der certo, terá sido Lula quem elegeu seu sucessor. Se ela não conseguir resistir ao bombardeio da crise dos cartões corporativos, será uma tentativa de Lula que não deu certo. Será descartada, e Lula partirá para outra alternativa.

O risco dessa história toda é que, ao final, Lula não tenha senão uma série de opções fracas, desorientadas e sem peso eleitoral. Bem, aí há o ás na manga do amigo de Lula, deputado Devanir Ribeiro. Se a história do terceiro mandato é mantida (e é mantida por ele, Devanir, não é pela oposição ou setores da imprensa), é porque faz parte dos sinais trocados emitidos por Lula. Das alternativas várias que ele mantém no cenário enquanto não toma a decisão sobre qual caminho seguir. Até que resolva esclarecer, o presidente faz como Chacrinha: confunde, não explica.